Setembro 22, 2011
sopro-do-coracao
Quando se fala de violência doméstica/conjugal, de imediato se pensa em agressão física ou psicológica.
Pensa-se, essencialmente, em mulheres agredidas fisicamente, espancadas, violentadas e, muitas vezes, com marcas visíveis.
Já se pensa, também, em casos de violência psicológica, onde o agressor usa a agressão verbal, as ameaças e as posturas agressivas.
Não é raro estas duas andarem de mãos dadas.
Quando pensamos num agressor, pensamos em alguém que se descontrola facilmente, que é violenta e nada paciente .
E quando nada disso está presente?
E quando falamos de uma pessoa calma, nada violenta, muitas vezes até, paciente e com um comportamento correcto?
Será que podemos dizer que estamos perante um agressor?
Provavelmente a primeira reacção será dizer que não.
Mas, e, se essa pessoa mantiver comportamentos de afastamento físico, sexual e emocional de forma continuada?
Será que este comportamento pode ser chamado de violência doméstica?
E se esse comportamento levar a outra pessoa a deixar de acreditar nela, de acreditar no seu valor e lhe reduzir a auto-estima a zero?
Será que, assim,já se pode considerar violência doméstica?
Não sei qual a resposta oficial para estas perguntas. Mas, sei qual a minha resposta.
A minha resposta é, sim. É violência doméstica, sim. E eu, fui vitima dela.
Não percebi no momento. Na realidade, só agora percebo.
E penso, como pude ser tão cega. Como pude não perceber.
Os sinais estava todos lá e, eu, no meio do meu desespero não percebi.
Podemos traçar o perfil, tipo, de um agressor. Estava lá tudo. E eu não percebi.
É alguém que maltrata e que de seguida mostra arrependimento, prometendo que não volta a acontecer.
Compra presentes e finge mudar de atitude para ser perdoado e, para que a outra pessoa não o deixe.
Com este comportamento, vai alimentando a esperança de que tudo vai mudar para, na primeiro oportunidade voltar ao mesmo.
O objectivo de um agressor é fragilizar a vítima para, que esta não o abandone.
Tudo isto se passou comigo. E, às vezes, pergunto-me se tudo isto foi feito de uma forma consciente. Prefiro pensar que não. É menos doloroso.
Hoje, tudo isto deixou de fazer parte da minha vida. E quase 20 anos depois, consegui romper com este ciclo vicioso e coloquei um ponto final nesta situação.
E para dar este capitulo da minha vida como encerrado, restava-me, apenas, assumir que, fui vitima de violência doméstica, de forma repetida e continuada, durante quase 20 anos.
Mas hoje, já não sou!!!
Agora... há que reconstruir a minha vida... e principalmente... reconstruir-me!